Família evitou que Rafaela trocasse judô pelo futebol





Rafaela Silva recebe o abraço da mãe após o título (Foto: Thierry Gozzer)

Seu Luis Carlos já não aguentava mais segurar Rafaela Silva em casa. Com cinco anos, a pequena dava trabalho para ele e para dona Zenilda. Só queria soltar pipa, brincar de bola de gude e jogar futebol. Na escola, vez ou outra arrumava problema. A saída encontrada pelos pais foi colocá-la no judô, em um projeto da Associação de Moradores da Cidade de Deus. A campeã mundial, porém, quase não seguiu na modalidade. Sua paixão na época era o futebol. Matriculada no judô, ela dava uma escapada dos treinos e ia até o "Bosque", campo da comunidade, onde jogava bola, e chegou a pensar em trocar de esporte.

- A infância dela foi jogando bola, soltando pipa e brincando de bolinha de gude. Eu não conseguia colocar ela dentro de casa, então falei: "Vou colocar essa menina no judô, para dar em algo que preste, porque na rua que não ia dar". Começou como uma brincadeira, ela nem queria entrar. O negócio dela era jogar futebol. Ela estava em dúvida, ia escondida para o "Bosque" jogar bola, e depois ia para o judô. Ela queria largar o judô para jogar bola - lembrou a mãe Zenilda.

Família de Rafaela Silva com camisa comemorativa para a judoca campeã (Foto: Thierry Gozzer)

Foi aí que entrou em ação Geraldo Bernardes, técnico de Rafaela desde os 8 anos, quando recebeu Rafaela e a irmã Raquel em seu projeto social. Sabendo do talento de Rafaela e da sua intenção de largar o judô, ele foi até Luis Carlos e pediu para que o pai batesse um papo com a judoca, para que ela não deixasse o esporte pelo futebol.

- O Geraldo veio falar comigo e mandou eu conversar com ela, para ela não sair do judô, que ela tinha talento. Falei com ela, ela me escuta sempre. Mas eu achava que ela jogava bola legal, porque o pessoal ia lá em casa pedir para liberar ela para jogar futebol. Imploravam. Eu disse para ela dar mais atenção ao judô, porque no judô o técnico sentiu que ela tinha mais futuro. Ela ficou meio assim, mas depois foi caindo na real. E olha no que deu - comemorou o pai Luis Carlos.

Rafaela Silva se emociona com o abraço da mãe (Foto: Thierry Gozzer)

"Filhona" recebe elogios fora do tatame

Hoje mãe da melhor do mundo, Zenilda agradece aos céus por tudo que passou com a filha. As dificuldades na Cidade de Deus e agora a vitória, com o título mundial inédito para o judô feminino brasileiro.

- É a melhor coisa do mundo. Mas ela não é só campeã no tatame. Ela é uma filha obediente, que ajuda em casa, que nos dá uma ajuda financeira. Não tenho o que falar da minha filha. É uma filhona.

A irmã Raquel, que entrou no judô com Rafaela e hoje também faz parte da seleção brasileira, é uma das mais orgulhosas pela conquista.

- A felicidade é imensa, não tem como explicar, ainda mais que foi um feito inédito. Ela é o orgulho da nossa família, do nosso projeto (Instituto Reação, núcleo Cidade de Deus). Não tenho como explicar o que estou sentindo - disse Raquel, que tem a filha pequena Ana Carolina como fã número um da judoca campeã.

- Ela é minha inspiração. Eu gosto demais dela. É uma super tia que eu tenho - disse Ana Carolina, toda envergonhada.




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