Nos primeiros meses de vida, a criança é ambidestra, ou seja, tem habilidade com as duas mãos. A definição final da só irá ocorrer entre os 6 e os 8 anos. Muito antes disso, porém, a criança já começa a mostrar certa preferência pelo uso de uma das mãos.
Quem comanda a lateralidade é o cérebro. Cada um de seus dois lados controla os movimentos da parte oposta do corpo. Assim, a mão e o pé esquerdos são acionados pelo hemisfério cerebral direito, e vice-versa. Nos destros, o hemisfério dominante é o esquerdo, enquanto nos canhotos é o direito. Apesar disso, ela também pode ser influenciada pelos hábitos sociais, dessa forma constitui um elemento importante da adaptação psicomotora.
Outro ponto importante a respeito da lateralidade é que, apesar de inata, a preferência por uma das mãos, por um dos pés ou por um dos olhos (sim, embora muita gente não saiba, também temos um olho dominante) vai se instalando progressivamente. A dominância de uma das mãos, para Le Boulch (1982), inicia-se a partir dos dois anos de idade, durante um período denominado por ele como "discriminação perceptiva", que se elabora na criança a predominância lateral, contudo porem, a lateralidade só pode ser definida na criança, após os cinco anos de idade.
Para Coste (1981), a dominância lateral só se desenvolverá "a partir do momento em que os movimentos se combinam e se organizam numa intenção motora" (p. 64), impondo-se dessa forma, a lateralidade por intermédio das experiências e da complexidade dos movimentos vividos pela criança.
Com efeito, a lateralização participa em todos os níveis de desenvolvimento da criança, só se instalando definitivamente após a criança ter passado etapas de processo de desenvolvimento: a montagem do esquema corporal, que organiza as percepções totais, visuais e os movimentos coordenados; e a estrutura espacial que ajuda a criança a discriminar a sua direita e esquerda, frente-trás, por meio das percepções de espaço adquiridas no seu movimentar-se cotidiano.
Não deve-se confundir lateralidade e conhecimento "direito-esquerdo", uma vez que a primeira é a dominância de um lado em relação ao outro, enquanto o conhecimento direito-esquerdo é domínio dos termos "direito" e "esquerdo". O conhecimento "esquerda-direita" decorre da noção de dominância lateral. É a generalização da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a criança, esse conhecimento será mais facilmente apreendido quanto mais acentuada e homogênea for à lateralidade da criança. Com efeito, se a criança percebe que trabalha naturalmente "com que mão", guardará sem dificuldade que "aquela mão" é esquerda ou direita.
Um ponto interessante quando se trata de lateralidade e aprendizagem motora é a transferência bilateral de aprendizagem, um fenômeno que "demonstra nossa capacidade de aprender uma determinada habilidade com mais facilidade usando uma das mãos ou um dos pés, depois de já termos aprendido habilidade coma mão ou o pé oposto" (MAGILL, 2000, pág.176).
A transferência bilateral de aprendizagem pode ocorrer no sentido do membro preferido para o não preferido ou vice-versa. Existe uma questão intrigante que envolve tais direções. Alguns autores, como Magill (2000), por exemplo, defendem que a transferência acontece em maior quantidade quando o membro de precedência é o membro preferido, levando em consideração a motivação. Ele afirma que a prática inicial do membro preferido tem uma grande probabilidade de levar a tipos de sucesso que encorajarão a pessoa a continuar a perseguir a meta da competência no desempenho da habilidade. Por outro lado, o autor destaca que existem autores que defendem que a transferência é maior quando se tem o membro não preferido como precedente; esta hipótese é justificada através da afirmação de que se foi possível a aprendizagem com o membro não preferido, será mais fácil de se aprender com o preferido. Porém, não há provas concretas de que uma das duas teorias é melhor que a outra
Na prática esportiva, o desenvolvimento bilateral é um aspecto importante do processo de aprendizagem, e promover esse desenvolvimento é responsabilidade do profissional de Educação Física, como também possibilitar a transferência bilateral no processo de aprendizagem motora.
De acordo com Schmidt (2010), a transferência é uma noção particularmente importante para professores preocupados com o planejamento da prática e com a eficácia da aprendizagem. Ensinar para a transferência, ou organizar a prática e a instrução para facilitar a transferência de aprendizagem é um importante objetivo para a maioria dos programas instrucionais.
Dentro do Judô, a dominância lateral definirá o lado mais eficiente do judoca para a aplicação das técnicas, e a prática dos ukemis poderá ajudar a desencadear melhor o processo de conhecimento direito-esquerdo.
É fácil perceber que um judoca que passou por um bom processo de desenvolvimento bilateral, e por um trabalho qualificado de transferência bilateral de aprendizagem, terá maior destaque entre os demais, uma vez que terá condições de aplicar as técnicas das formas mais variadas e imprevisíveis o possível.
Publicado em 02/01/14 e revisado em 19/12/18
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