Flávio Canto ensina ex-colegas e quer criar escola brasileira




Flávio Canto (à esq.) dá aulas de judô a crianças carentes no Instituto Reação desde 2000. Foto: Felipe Assumpção/AgNews

A aposentadoria do judoca Flávio Canto, anunciada no início deste ano, não afastou o atleta dos treinos da Seleção Brasileira. Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, ele assumiu no início de março a função de técnico de ne waza, técnicas de solo da modalidade, da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e agora ensina seus principais trunfos a antigos companheiros para criar uma escola brasileira de combate.

Nesta quarta-feira, o atual apresentador do Corujão do Esporte, na Rede Globo, Canto comandou durante toda a manhã um treinamento específico de parte da Seleção masculina, em São Paulo. Considerado um dos melhores atletas da história em técnicas de solo, ele mostrou a judocas experientes como Leandro Guilheiro, bronze em Atenas e Pequim 2008, e Luciano Corrêa, campeão mundial, como ser mais eficiente quando o combate for para o chão.

"É uma maneira de continuar perto desse grupo, que não deixa de ser uma família para mim, e de alguma forma ajudá-lo, porque não é fácil você trabalhar com um grupo de super elite e tentar contribuir. Mas a gente é brasileiro, não desiste e está sonhando grande", afirmou Canto.

O primeiro objetivo de trabalho do agora ex-judoca é claro: aumentar a capacidade dos brasileiros de lutarem no solo já nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Para isso, gasta os primeiros treinos com os antigos companheiros com exercícios de coordenação motora e passa lição de casa para os atletas.

A ideia é que os judocas desenvolvam os movimentos básicos primeiro, para depois conseguirem aplicar as técnicas ensinadas por Canto com maior facilidade. Mas em longo prazo, Canto quer criar uma escola brasileira de luta no solo, a ser transmitida para as próximas gerações de atletas.

"O ideal é dar mais ênfase à parte de chão, que é onde eu tenho mais habilidade, e montar uma base, ajudar a criar uma escola de chão do judô brasileiro. A gente está começando com a elite, mas na rebarba tem um grupo de atletas nos treinos que são a nova geração. Já tem uma preocupação de disseminar a cultura do ne waza", explicou.

A iniciativa da Confederação de contratar Canto para auxiliar os treinamentos da Seleção fez sucesso entre os atletas, que enxergam na luta de solo uma alternativa importante para lutas contra adversários com boa resistência.

"Nos Jogos Olímpicos de Atenas, eu estava em uma luta muito difícil, perdendo e, faltando 40 segundos, encaixei um estrangulamento e ganhei a luta. O chão pode resolver, sim, pode ajudar", lembrou-se Leandro Guilheiro, que ficou com o bronze nas Olimpíadas disputadas na Grécia.

Outro fator destacado pelos atletas da Seleção é a metodologia utilizada por Flávio Canto nos treinos. O ex-judoca ganhou prática em passar ensinamentos desde que fundou em 2000 o Instituto Reação, no Rio de Janeiro, criado para ensinar a modalidade a crianças de comunidades carentes na cidade.

O projeto deu certo e foi responsável pela revelação de Rafaela Silva, que aos 19 anos de idade já integra a Seleção adulta, é medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara e vice-campeã mundial.

"Eu tive ao longo da última década a preocupação de sistematizar conhecimento, para traduzir para os alunos o que eu faço nas lutas. Agora eu chego aqui na Seleção com essa bagagem e para eles fica mais fácil, porque têm uma habilidade motora muito diferenciada", explicou o professor.



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