O judô brasileiro vai ser ousado nos Jogos Olímpicos de Londres. Com 14 atletas classificados pela primeira vez na história do esporte, as metas traçadas pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ) falam em conquistar quatro medalhas e voltar ao lugar mais alto do pódio, coisa que não acontece desde Barcelona 1992 com Rogério Sampaio. O coordenador técnico da seleção, Ney Wilson, vai até mais além: ele vê com tamanho otimismo o crescimento do judô feminino do Brasil, que se arrisca a imaginar que o resultado das mulheres possa até ser melhor que a dos homens.
"A equipe feminina é mais jovem e temos que ver como elas se comportam numa situação de tensão como a de uns Jogos Olímpicos. Os homens são mais experientes, mas Londres vai ser a grande prova para elas", disse Ney Wilson durante a apresentação do esquema da equipe para Londres, nesta quarta-feira, na sede da entidade no Rio.
Para atingir esses objetivos, o planejamento é meticuloso e prevê muitos sacrifícios, como ficar de fora da cerimômia de abertura no dia 27: "começamos a competir no dia seguinte e não vamos a Londres para nos divertir". Além de treinos no Rio de Janeiro até a data do embarque para a Inglaterra, no dia 16, a delegação chega em Londres e pega um ônibus até a cidade de Sheffield, a três horas de distância, para dar toda a calma e estrutura necessária aos atletas em busca de medalhas. "Só vamos viajar para Londres dois dias antes da competição. Entramos na Vila Olímpica e saímos no dia seguinte da competição", explica.
No dia das disputas, a CBJ reservou um hotel perto do ginásio das lutas onde o atleta terá apoio de um técnico, uma nutricionista, um massagista e um massoterapeuta, para se preparar para as finais, marcadas para o início da noite. "E ainda vamos ter um carro à disposição para o atleta sair mais rápido do ginásio e começar o descanso logo", explicou Wilson. Caso ganhe medalha, participa dos eventos oficiais do COB e dorme uma noite em Crystal Palace. Depois fica liberado para curtir um pouco antes do retorno da equipe, no dia 5 de agosto. Todos juntos, direto para São Paulo.
No total serão 50 pessoas envolvidas, entre atletas, atletas de suporte e 18 membros da comissão técnica. "Em Barcelona, quando Rogério Sampaio ganhou o ouro, a comissão técnica inteira do Brasil era de três pessoas", lembra o presidente da CBJ, Paulo Wanderley.
O otimismo com o número de medalhas vem de alguns números interessantes. Nos últimos quatro anos, o judô brasileiro conseguiu 402 medalhas em competições internacionais, teve o melhor resultado de um país nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, e ainda conseguiu colocar dois atletas no primeiro lugar do ranking antes de Londres: Mayra Aguiar e Leandro Guilheiro. Isso garante ao Brasil ser cabeça-de-chave em dez das 14 categorias em disputa em Londres.
Além do trabalho de longo prazo, a tecnologia entra em cheio na preparação da equipe brasileira. No meio da delegação está um estrategista. Leonardo Mataruna é o responsável por gravar os treinamentos dos atletas em vídeos e ver onde estão errando, onde podem corrigir deficiências e onde podem melhorar. "Queremos mostrar alguns segredinhos em Londres. Aliás, todo mundo quer", explica Ney Wilson, dizendo ainda que quando se trata de Olimpíada, um pequeno detalhe faz toda a diferença. Da equipe brasileira que vai a Londres, além de Mayra e Guilheiro, primeiros do ranking (até 30 de abril quando foram definidas as vagas para Londres), quase todos têm vasta experiência internacional e bons resultados contra os dez primeiros do ranking mundial em suas categorias.
No feminino vão estar em Londres além de Mayra Aguiar, Sarah Menezes, Erika Miranda, Rafaela Silva, Mariana Silva, Maria Portela e Maria Suelen Altheman, que volta a colocar o Brasil na disputa do peso pesado. No masculino, além de Guilheiro, estarão Felipe Kitadai, Leandro Cunha, Bruno Mendonça, Tiago Camilo (medalhista olímpico duas vezes), Luciano Corrêa (outro medalhista olímpico) e Rafael Silva.
As metas da CBJ são melhorar o desempenho qualitativo de Seul 1988 e Barcelona 1992, com dois ouros, e o quantitativo de Los Angeles 1984 e Pequim 2008 com três medalhas. "Acho que depois de 20 anos o judô brasileiro merece", disse Wilson.
Se vai conseguir ou não, é questão de esperar os Jogos começarem. "Para mim 2012 já acabou. Estou só esperando as medalhas que o Ney Wilson vai trazer. Minha cabeça agora está já em 2016", disse brincando Paulo Wanderley, sem esconder que toda brincadeira traz um fundo de verdade. E nesse caso, a verdade tem que brilhar como ouro.
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