Cada pingo de suor das centenas de dias de treinamentos de Leandro Guilheiro nos últimos quatro anos vai entrar no tatame nesta terça-feira, nos Jogos Olímpicos de Londres. O símbolo do esforço em busca do alto pódio estará representado em um pedaço de pano em volta de seu quadril. É na faixa preta, objeto sagrado para o judoca duas vezes medalhista de bronze, que o principal nome da modalidade no Brasil espera sugar as energias necessárias para atender a sua expectativa e de uma nação inteira.
O atleta de 28 anos, nascido em Suzano, lutará pela sua terceira medalha na história da competição nesta terça-feira, no Complexo Excel, a partir das 5h30m (horário de Brasília), com transmissão ao vivo do SporTV 2. Desta vez, porém, o líder do ranking mundial estará em busca do primeiro pódio na categoria até 81kg e do primeiro ouro olímpico. No feminino, Mariana Silva será a representante brasileira na disputa até 63kg.
A relação de um judoca com sua faixa é estreita, singular. Desde cedo, nas escolinhas da modalidade, são passados os significados daquele pedaço de pano. Cada etapa superada, cada desafio, uma nova cor. Até chegar à preta, a mais sagrada de todas. Junto com os primeiros golpes, Leandro assimilou ainda criança a relevância daquela peça do uniforme.
- Eu aprendi, quando era garoto, que ela não deve ser lavada. Mas não fica fedendo que nem o quimono, não. Tem aquela coisa do suor do seu treinamento estar representado na sua faixa. E vai acumulando. Parece porco, mas não é, não. Você leva todo o suor do seu treinamento junto com você, na sua faixa. Tenho muito carinho por ela - explicou.
Os cuidados não são poucos. Detalhista, e talvez até um pouco sistemático, o favorito à medalha de ouro em Londres não gosta nunca de perdê-la de vista. Por muito tempo entrou até na "paranoia" de não querer embarcar com a peça dentro da mala quando viajava para as competições.
- Tenho muito cuidado com a minha faixa. Com o quimono nem tenho tanto. Tinha uma época que até levava na minha mala de mão com medo de acontecer algum problema com ela. A gente sempre tem uma reserva, mas tenho aquela de estimação. A que você prepara mesmo para a competição.
Dono de duas medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008, Leandro não é o único a tratar a faixa como um objeto sagrado. Mas é difícil encontrar um judoca que deposite nela tanta confiança como ele. Esse é um dos motivos para fazer questão de prepará-la de uma forma especial em cada grande competição. Como se fosse arrumá-la para uma festa. Só não revela o toque especial.
- Eu sempre bordo alguma coisa nela. Geralmente, é um ideograma japonês, em preto. Cada vez é uma palavra diferente. Ninguém vê, ninguém sabe.
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