Em ascensão, judô brasileiro resgata origens
Marta Teixeira
A ação não partiu dos dojôs, mas da Associação Kobra de Cultura e Esporte, entidade japonesa que obteve os direitos de edição do livro Sanshiro Sugata. A obra, lançada nesta quarta-feira na residência do cônsul geral do Japão no Brasil, Masuo Nishibayashi, conta a história de Jigoro Kano, criador do judô.
Editado no Japão pela primeira vez em 1942, o livro foi escrito por Tsuneo Tomita, filho de Tsunejiro Tomita, primeiro aluno de Kano, retratado na obra como Yujiro Toda. Mais que contar a história de vida do judoca, a publicação tem como compromisso resgatar os princípios básicos da modalidade.
"Toda vez que uma modalidade torna-se competitiva seus conceitos originais são deixados de lado", lamenta o campeão olímpico (Barcelona/92) Rogério Sampaio. Para ele, a divulgação da história de Kano servirá para reavivar as origens e manter no judô aquilo que torna a modalidade a mais popular nas escolas de todo o país.
"Não tenho dados estatísticos, mas com certeza o judô é a modalidade mais praticada nas escolas entre jovens de 6 a 12 anos pois os pais buscam a formação educacional que só o judô dá com sua disciplina, hierarquia e respeito ao próximo".
Para o presidente da Federação Paulista de Judô (FPJ), Francisco de Carvalho Filho, muitos destes elementos têm sido postos de lado, não apenas no Brasil, mas até mesmo no Japão, pela ânsia de resultados.
"O Japão já faz hoje um renascimento para recuperar isto. É muito importante que este livro chegue aqui agora para dentro de alguns anos não termos de fazer um renascimento do judô também no Brasil", avalia Carvalho Filho.
Uma preocupação que, para Sampaio, tem escala mundial. "Eles estão com um programa chamado Renascença do Judô porque perderam o Norte quando começaram a se preocupar apenas com medalhas", completa o presidente da FPJ. "Mas a medalha não é um objetivo, é uma conseqüência".
A edição brasileira de Sanshiro Sugata é um projeto antigo. Segundo o presidente da Associação Kobra, Shuhei Okano, foram necessários 10 anos de negociação para concretizar a versão, a primeira fora do Japão. Os Estados Unidos também estão na fila para uma edição em inglês. "Mas traduzir uma obra como esta não é uma coisa automática", diz Okano para explicar parte das dificuldades enfrentadas durante o projeto. "Há muita preocupação com a filosofia e a atualização do vocabulário".
Escrito em uma linguagem antiga do japonês, o livro oferece muitas armadilhas lingüísticas, exigindo conhecimento histórico específico do tradutor. No Brasil, a honra coube a Shintaro Hayashi. Ex-judoca, ele dedicou 1 ano de trabalho para fazer a versão.
Os recursos financeiros também foram escassos para viabilizar a primeira edição. Com tiragem inicial de 3 mil exemplares, o livro, que é um verdadeiro best-seller no Japão, exigiu cerca de US$ 100 mil de investimento.
Parte da verba veio da Fundação Japão, o restante saiu do bolso de empresas e amigos colaboradores. Alguns destes últimos, ainda estão na fila para receber pelo trabalho. Mas para Okano, é justamente este o espírito que a obra tenta ressuscitar. "As pessoas morrem, mas os livros ficam. E ficam para ajudar a ensinar toda uma nova geração. Queremos que este livro seja uma bíblia para futuros judocas brasileiros".
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